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Uma breve descrição da psicanálise, (FREUD, 1924)

FREUD, S. (1924) Uma breve descrição da psicanálise. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das letras, 2011. (Obras Completas de Sigmund Freud, v. 16)

Este texto encontra-se num momento em que a teoria de Freud caminhava para a maturidade. O texto preocupa-se em resumir o percurso teórico da psicanálise até então, pontuando-os em cinco momentos diversos:


I

  • O objetivo inicial da Psicanálise era compreender a natureza das doenças nervosas ‘funcionais’, indo além da impotência do tratamento médico até então existente para tais afecções.

  • O tratamento médico da época se esgotava na explicação unicamente orgânica de que as paralisias histéricas eram fundadas em ligeiros distúrbios funcionais das mesmas partes do cérebro que, quando gravemente danificadas, levavam às paralisias orgânicas correspondentes. 

  • Na década de 1880, com o advento do hipnotismo na ciência médica, duas lições puderam ser tiradas: mudanças físicas podiam ser efetuadas a partir de influências mentais e o inconsciente podia ser comprovado concretamente, ou seja, ele tornara-se algo concreto e passível de experimentação.

  • A hipnose, por fazer o sujeito histérico reviver o momento traumático, lhe dando mais liberdade para exprimir o afeto que antes estava reprimido e assim, recuperar-se. O sintoma que antes tomava o lugar desse afeto não dito, desaparecia.

  •  Charcot: pensou o trauma como eliciador de uma paralisia de natureza histérica e até o provou, forjando em pacientes momentos traumáticos sob situação de hipnose que os levavam à paralisia. 

  • Breuer: médico vienense que curou, através da hipnose, a famosa Anna O, em 1881. Com ela, Breuer e Freud perceberam que a etiologia dos sintomas histéricos estavam intimamente relacionados à vida emocional do indivíduo e à ação recíproca de forças mentais. 

  • O sintoma substitui um determinado afeto que era reprimido por uma ação, ou seja, o sintoma fica no lugar das ações não realizadas. Dessa forma, o momento traumático reprimido estava esquecido na memória do sujeito. 

II


Freud parou de utilizar a hipnose por duas razões: 


  • Nem todos eram suscetíveis a entrar em estados hipnóticos 

  • Os resultados nem sempre eram satisfatórios, em alguns casos, o sintoma voltava dentro de algum tempo.

  • Freud seguiu, então, com o método de “associações livres”: implica em pedir ao paciente para que fale tudo aquilo que lhe ocorra, o mais desprendido possível das censuras internas ou medo de não fazer sentido. Através do que fosse sentindo dito pelo paciente, o psicanalista deve ir auxiliado pela sua atenção flutuante, e assim, interpretar o sentindo do sintoma. 

  • Lucro na mudança da hipnose para a associação livre: a segunda possibilita uma compreensão, tanto do paciente quanto do psicanalista, do material que havia sido oculto. 

  • Resistência: trabalha em favor do sintoma permanecer como tal, uma vez que a revelação do recalcado poderia conter um poder tamanho que romperia o sujeito, desintegrando seu ego. 

  • Os impulsos sujeitos à repressão eram imorais, pertencentes ao egoísmo, à crueldade e à sexualidade, fora do permitido pelas normas sociais e, consequentemente, impossíveis de serem socialmente satisfeitos. Afinal, viver em sociedade é renunciar grande parte de seus impulsos instintuais.

  • O sintoma neurótico é fruto de um desejo impróprio que foi recalcado, mas escapou a este processo de recalque, por alguma razão; ele emerge na consciência como tal em razão de uma formação de compromisso com o superego, instância psíquica responsável pela censura e pela lei, que redefine a forma do desejo de um sintoma; ele é, portanto, a realização substitutiva de um prazer.

  • Os sintomas que passarão a existir nos sujeitos dependem muito de como o sujeito sairá resolverá a situação edípica, e aprenderá a lidar com suas feridas narcísicas, de desejar e não poder ter.

III


  • A psicanálise é útil também para falar de fenômenos diários, afinal, parapraxias, sonhos, chistes, atos falhos ocorrem em pessoas sadias e psiquicamente normais. 

  • O sintoma não é a única possibilidade de formação de compromisso, mas também todos esses são formas dos conteúdos inconscientes recalcados emergirem. 

  • O sonho é uma realização disfarçada de um desejo recalcado.

  • O livro A Interpretação dos Sonhos, portanto, não apenas constituiu um novo método de tratar as neuroses, mas também inaugurou uma nova Psicologia, passível de abarcar uma compreensão do funcionamento normal. O sonho, por exemplo, é um processo que se realiza tanto na vida mental sadia quanto na patológica. 

IV


  • Berlim (1920): fundação da primeira clínica psicanalítica para pacientes externos. Esse instituto buscava tornar o tratamento analítico acessível a diversos círculos da população e instruir médicos, através de um curso de formação, a serem analistas clínicos.

  • A libido é a força com que uma pulsão se direciona para um objeto (libido objetal) ou para o próprio ego (libido narcísica). 

  • Na neurose, imperaria a libido objetal, enquanto na psicose, a libido narcísica.

  • A Psicanálise foi primeiramente fundida e aplicada na Psiquiatria (dentre as áreas da medicina). 

V


  • Interfaces entre a psicanálise e o social: preocupação de expandir os limites da análise do sujeito para a análise do social.

  • A sociedade está embasada sob grande renúncia pulsional (isto é, a supressão cultural em muito represou a pulsionalidade e a sociedade criou modos substitutivos de prazer em prol do coletivo, modos esses chamados de sublimação).


Maria Martha Gibellini



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