Xavier Dolan (1989-) é um jovem diretor de Montreal (Canadá) que teve grande notoriedade a partir de seu longa Eu matei minha mãe (DOLAN, 2009) por seu estilo autoral que demonstrava diversos elementos da cultura de sua cidade, de sua angústia jovial e de questões de sobrevivência psíquica LGBTQIA+ em nossa época.
Laurence Anyways (DOLAN, 2012) é provavelmente o ápice dessa linguagem cinematográfica, cheia de prazeres audiovisuais, cores vibrantes e um charme impecável de sua jovialidade revolucionária quebequense.
Laurence é um homem casado de 30 e poucos anos que ama profundamente sua esposa, Fred, mas ele finalmente precisa contar para si e para o mundo que sempre se sentiu como mulher. Aqui entra uma particularidade importantíssima desse filme (além do estilo delicioso): Laurence é uma mulher trans que se atrai por mulheres, ou seja, estamos falando de gênero aqui, não de uma mudança de orientação sexual. Isso faz toda a diferença: Xavier Dolan não faz um filme educativo para explicar essas questões para as massas, ele faz um filme para personificar seu universo em película com todas as suas forças.
O filme fala desse amor intenso e cheio de brigas entre os dois, a dificuldade de aceitação de Fred dessa revelação inesperada de Laurence, e mesmo assim ela tenta, e muito, se adaptar e apoiar a nova esposa/marido.
Não temos aqui uma história comum de aceitação pronta ou somente impossível, temos nuanças diversas da busca de si, da realização de si no mundo e das diversas formas de amar para além das diversas dificuldades e atritos naturais desse amar.
É um filme longo, com mais de duas horas, mas é nele que vemos Xavier Dolan se apropriar de uma maturidade polida onde conhecemos ainda mais esse mundo particular e ao mesmo tempo relacionável em quase qualquer parte do mundo. Aproveite para se deliciar com sua linguagem visual e trilha sonora envolvente!
Escrito por Felipe Paganelli
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