Conferência XXXI - Obras completas Cia. Letras, vol. 18, pp. 192 a 223 (1932/33)
Nessa conferência, Freud traz à tona a sua formulação a respeito de suas novas formulações acerca das instâncias psíquicas, a saber, superego, id e ego, e suas relações internas, apresentando, assim, sua elaboração da segunda tópica. Importante frisar, que esta não vem em oposição à primeira, mas como um aprofundamento e rebuscamento do que ele havia descoberto antes.
Para chegar na formulação da segunda tópica, Freud tomou o ego como seu objeto de investigação, trazendo-nos a ideia de que este ego pode-se dividir em diversas funções, pode tomar a si mesmo como objeto e pode observar-se e criticar-se.
O superego:
É a origem da nossa consciência moral, ou seja, é a instância que representa as exigências e restrições da moralidade e que tem como função a auto-observação, o julgamento, a punição e a proibição.
No começo da vida, os pais são a fonte de moralidade e de limite, representantes da punição e do julgamento. Em outras palavras, eles nos dizem o que é certo e o que é errado e nos castigam pelos atos inadequados que cometemos. Quando essa coerção externa é internalizada, “o superego assume o lugar da instância parental e observa, dirige e ameaça o ego, exatamente da mesma forma como anteriormente os pais faziam com as crianças” (FREUD, p. 68, 1932).
“As crianças de tenra idade são amorais e não possuem inibições internas contra seus impulsos que buscam o prazer. O papel que mais tarde é assumido pelo superego é desempenhado, no início, por um poder externo, pela autoridade dos pais” (FREUD, p. 67, 1932).
Então, se os pais forem severos com a criança, se espera que a criança desenvolva um superego rígido.
Mas como ocorre a passagem do superego parental para o superego do filho? A base desse processo é a identificação (o processo de um ego imitar o outro), sendo esta herança do Complexo de Édipo.
“Os pais, e as autoridades análogas a eles, seguem os preceitos de seus próprios superegos ao educar as crianças” (FREUD, p. 72, 1932). Dessa forma, o superego de uma criança é construído a partir do superego dos seus pais, transmitindo, através de gerações, julgamentos de valores.
Por isso, o superego torna-se o veículo das tradições e dos valores, e é tão importante no comportamento social do homem.
O Id:
É a região da mente alheia ao ego, ou seja, a parte obscura e inacessível da nossa personalidade.
Ser inconsciente não é mais sua característica exclusiva.
As formas de acessá-lo é por meio da elaboração onírica, atos falhos, chistes e formação dos sintomas neuróticos.
As leis lógicas do pensamento e a organização não se aplicam ao Id. Ele é carregado de energia e é regido pelo princípio do prazer, não reconhecendo nenhum julgamento de valores.
O Id busca irrestritamente a satisfação das necessidades pulsionais, ou seja, catexias pulsionais que procuram a descarga.
O Id é atemporal, ou seja, nenhuma alteração em seus processos mentais é produzida pela passagem de tempo. A alteração só ocorre se esses processos se tornam conscientes e esta energia é liberada (efeito principal do processo terapêutico).
O ego:
Significa razão e bom senso.
É voltado para o mundo externo.
É receptivo às excitações externas e do “interior da mente”.
Tem como uma de suas funções representar o mundo externo perante o id (devendo excluir da percepção do externo tudo o que for interno).
Modula o acesso do id à motilidade (faz isso através da atividade do pensamento).
Substitui o “princípio de prazer” regente no id pelo “princípio de realidade”.
Introduz, por via do sistema perceptual, a relação com o tempo.
Sintetiza conteúdos do id, combinando e unificando.
Evolui da percepção das pulsões para o controle dessas.
O ego, entretanto, não relaciona-se apenas com o id, mas que “serve a três senhores”: 1) o mundo externo, 2) o superego e 3) o id. E é em virtude de ter como função harmonizar as exigências destes que, eventualmente, quando pressionado, pode falhar, resultando disso a ansiedade.
A segunda tópica fica completa: as três regiões em que pode-se dividir o aparelho mental de um indivíduo é o Ego, Superego e Id.
Maria Martha Gibellini
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